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Pedro Kemp cobra apuração após PMs entoarem gritos de guerra violentos em formatura

por | ago 6, 2025 | Geral, Política

Um vídeo que circula amplamente nas redes sociais e veículos de imprensa chocou Mato Grosso do Sul e o país. Nele, formandos do curso de soldados da Polícia Militar entoam gritos de guerra que fazem apologia explícita à violência e ao extermínio. As falas, como “bate na cara, espanca até matar”, “arranca a cabeça e joga ela pra cá” e “é a força da PM que cancela CPF”, escancararam o que o deputado estadual Pedro Kemp (PT) classifica como “grave desvio na formação dos agentes da Segurança Pública”.

Nesta terça-feira (5), Kemp apresentou indicação à Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, solicitando que seja encaminhado expediente ao governador Eduardo Riedel, ao secretário de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, ao comandante-geral da PMMS, coronel Renato dos Anjos Garnes, e ao Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial (GACEP), do Ministério Público Estadual, pedindo a imediata apuração administrativa dos fatos, identificação de responsáveis e aplicação de sanções cabíveis.

“As expressões entoadas são incompatíveis com os valores e deveres institucionais da Segurança Pública e afrontam os princípios do Estado Democrático de Direito. Não podemos aceitar a naturalização da violência por quem deveria proteger a vida”, afirmou Kemp.

Apologia à barbárie

O conteúdo dos gritos causou indignação e levanta sérias dúvidas sobre o conteúdo e os valores ensinados durante o curso de formação da Polícia Militar. Para o parlamentar, a situação é gravíssima:

“A PM tem o dever de zelar pela ordem com respeito irrestrito aos direitos fundamentais dos cidadãos. Ao invés disso, vemos um discurso que celebra a brutalidade e o extermínio, numa clara inversão de valores.”

Além de ferir preceitos constitucionais, como a dignidade da pessoa humana, o direito à vida e a proibição da tortura, o episódio pode configurar incentivo à prática de crimes por parte de agentes públicos, algo frontalmente contrário à Constituição Federal e aos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.

Letalidade policial em alta

A preocupação não é apenas simbólica. Os números da letalidade policial em Mato Grosso do Sul são alarmantes. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024, o estado registrou 133 mortes por intervenções policiais em 2023, um aumento de 160,8% em relação ao ano anterior. Em comparação, no mesmo período, as facções criminosas mataram 15 pessoas, enquanto a polícia matou 86, conforme dados do Campo Grande News.

Em todo o Brasil, foram 6.393 mortes por ações policiais em 2023. O perfil das vítimas é conhecido e preocupante: 82,7% são negros, 71,7% têm entre 12 e 29 anos, e 99,3% são homens.

“Isso não é combate ao crime. É extermínio seletivo. É preciso dizer com todas as letras: há uma política de morte disfarçada de segurança pública”, declarou Kemp.

Formação precisa ser revista

O deputado defende uma revisão imediata no programa de formação dos policiais militares, com foco na proteção da vida, mediação de conflitos e respeito aos direitos humanos. Ele aponta que o episódio revela um problema estrutural, não isolado: a cultura da violência está sendo ensinada como valor nas academias.

Citando estudos da psicanálise, Kemp alerta que a normalização da crueldade compromete a saúde mental dos próprios policiais, além de comprometer a confiança da sociedade na corporação.

“A violência com crueldade é autodestrutiva. A segurança pública precisa formar profissionais preparados para proteger vidas, não para celebrá-las como troféus de guerra.”

Responsabilização é urgente

Kemp cobra resposta firme e urgente do Estado. “É inaceitável que uma instituição pública, financiada pelos impostos da população, promova ou tolere esse tipo de comportamento. O governador, o comando da PM e o Ministério Público têm o dever de agir com celeridade para garantir que esse desvio não se repita.”

A denúncia feita pelo parlamentar acende um alerta vermelho para o futuro da segurança pública no Estado.

Foto: Wagner Guimarães

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